segunda-feira, 21 de abril de 2014

Como se calcula o preço de um trabalho de arte

Inserção em Circuitos Ideológicos, de Cildo Meireles, 2013
Em novembro de 2013 saiu uma matéria muito interessante na Revista Select, de autoria de Mario Strecker, sobre como são criados os valores das obras de arte. Se você está utilizando a fotografia nesse segmento, veja o que considerar na hora de fazer seu preço.

"Um grande mistério para quem olha de fora é como se faz o preço da arte. E por que uma obra pode custar R$ 100 e outra US$ 17,5 milhões. A dimensão, o material usado ou a escassez de obras do artista interferem no preço, mas razões não explicam tudo: muitas compras são feitas por impulso. É mais barato comprar obras de jovens artistas (não necessariamente artistas jovens) do que de autores com carreira estabelecida. Mais barato e mais arriscado, pois esse autor pode não seguir carreira ou não decolar. Uma pintura sobre tela costuma custar bem mais do que um trabalho em papel. Pinturas podem ser vendidas por metro linear, a partir de tabela. Quanto menor a tiragem de uma gravura ou escultura feita em série, maior o valor de cada cópia. E, principalmente, quanto mais prestigiado o artista, maior o preço. Só que prestígio não é ciência exata. Até revistas como a seLecT são, mesmo sem querer, agentes que transformam o valor da arte. Alçar uma obra à capa de um livro, catálogo ou revista é algo visto como “legitimação” e pode influir no preço, independentemente das razões editoriais ou gráficas por trás da escolha. A seLecT conversou com leiloeiros, marchands, artistas, curadores e outros profissionais da arte para tentar descobrir como são criados os valores das obras, a reputação dos artistas e as coleções."

Veja aqui um resumo do que foi dito:

- Eliana Filkenstein e equipe da Galeria Vermelho
"Multiplique o custo do material por dois. Adicione um valor pelo currículo do artista, sua participação em bienais, feiras, textos escritos sobre ele, currículo acadêmico, demanda que possa ter no mercado, e aí começamos a ter um preço."

- Aloisio Cravo, leiloeiro
"Leilão trabalha com desejo. (...) Faço a construção do preço partindo de informações de mercado, da atenção que determinado artista está recebendo no momento. (...) Eu não acho que vender uma obra pela primeira vez em leilão seja o melhor caminho. Se ela está sendo vendida em primeira mão, quer dizer que ela veio direto do artista. A melhor venda é a da galeria, que oferece um projeto de carreira para o artista, faz o posicionamento dele no mercado, pensa a longo prazo. É importante que o artista crie uma história. Não tenho nem como construir o preço de uma obra vinda diretamente do artista; não há base no mercado para avaliar seu trabalho. (...) O critério básico é a inserção do artista no mercado, seja modernista ou contemporâneo. Leilão trabalha com desejo, então as obras têm que ser do imaginário do colecionador, têm que ser cobiçadas por ele. Quais momentos desse artista são desejados? Nem todas as obras de um artista são as mais valorizadas, as mais desejadas. Quando o artista morre, é mais fácil avaliar, pois a obra dele fica fechada, então é mais fácil ver nesse contexto quais fases, quais trabalhos são mais interessantes, mais representativos. A definição de preço é feita por mim. Eu faço a construção do preço de uma obra partindo de informações do mercado, da atenção que determinado artista está recebendo no momento. Se vejo que uma obra que vale R$ 10 mil tem uma grande procura, posso colocar o lance inicial em R$ 14 mil, por exemplo. Mas não adianta o vendedor chegar para mim e falar: “Mas eu só vendo se for por R$ 50 mil”. Aí eu digo: “Então não posso fazer negócio”. Da mesma forma, às vezes um vendedor tem muita pressa em vender uma obra, quer baixar o preço e diz: “Vende pela metade”. Também não posso fazer isso, porque desqualifica a obra. Daí eu ser especializado. Eu perco a justificativa para o meu comprador do porquê chegar a um certo preço. Sou um balizador, eu tenho que ter argumentos para explicar por que construí esse preço. Não dá para eu dizer “vale R$ 50 mil” e o vendedor dizer: “Põe R$ 100 mil e vamos ver no que dá”. Não posso fazer isso. A minha condição de especialização é essa: o colecionador vai me questionar. Daí vem uma casa ter mais prestígio que outra."

- Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP

"A obra de arte é notória por ter seu valor atribuído subjetivamente. Não há uma associação de valores por similares no mercado, a não ser que sejam obras de um mesmo artista, então, seu preço é avaliado segundo suas próprias obras. Um conjunto de variáveis forma um valor possível para uma obra de arte: a opinião dos críticos, juntamente com a venda de suas obras, adicione a isso a superexposição de um artista ou um bom momento do criador com exposições individuais, internacionais, galerias prestigiadas, uma recente compra por um colecionador renomado, enfim, o preço de uma obra é sempre um preço possível que um bem intangível e de vigor possa ter naquele momento - porque o tempo também é um fator imprescindível para a valorização ou não da obra. Eu acredito que o preço da obra é esse ponto central para onde convergem essas variáveis. Pode ser um pensamento neutro, mas também é uma maneira democrática de deduzir que nessa seara há muitas mentes que influenciam no preço final. E se há democracia nesse processo, provavelmente também há justiças sendo feitas."


- Jac Leirner, artista
Indagada sobre a possibilidade de um artista não trabalhar com galerias Jac Leirner diz "Sim, é possível. Arte e mercado são coisas completamente diferentes, mas que tangem na circulação, nos desdobramentos de valores. São dados fundamentais para que a arte se faça presente no mundo. Mas o artista é um ser que também pode ser livre dessas amarras específicas." Segundo ela, o ideal para um artista é ter "meios para que possa ter tempo e lugar para pensar, trabalhar, experimentar. Viver bem, cercado das linguagens e parceiros que lhe cabem.". Indagada sobre preço ela diz; "Cada caso é particular, circunscrito em uma série de fatores. Existe arte de ponta, de qualidade extrema, que não chega ao mercado. E existe também arte de qualidade duvidável sendo vendida como se fosse uma joia rara. É muito comum essa discrepância."

Para acessar a matéria na íntegra acesse: link.


Fonte: Revista Select
Edição 14 - OUT/NON/2013
www.select.art.br/