No século XIX, para ser reconhecida como arte, a fotografia tenta emular resultados pictóricos e gráficos. Nessa busca, o pictorialismo acaba por abrir caminho para a definição de fotografia moderna, quando propõe um distanciamento entre imagem e referente e afirma a autonomia do meio como sistema de representação visual. As artes visuais, por sua vez, não deixam de dialogar com a fotografia, principalmente no século XX, como atestam o fotodinamismo, interessado numa imagem sintética, diferente do dinamismo plástico futurista, e um conjunto de quadros de Picabia, nos quais o uso de imagens fotográficas banais lhe permite discutir os pressupostos das vanguardas, fazendo do ato criador um gesto de escolha e deslocamento. Artistas como Heartfield, Klutsis, Ródtchenko e Lissitzky passam a explorar elementos da comunicação de massa em fotomontagens – nas quais a questão política não impede o emprego de princípios plásticos modernos –, o que demonstra o quanto estão cientes da necessidade de novos instrumentos visuais numa sociedade em vias de transformação ou já transformada pela mecanização.
Sobre o autor
Annateresa Fabris foi professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Crítica, curadora e autora de diversos livros, pesquisa atualmente as relações entre fotografia e artes visuais.
Fonte: Livraria 30porcento