quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A fotografia divide espaço com a pintura nas galerias de arte

A foto mais cara do mundo é a do rio Reno de Andreas Gursky
Na Edição 173 da Revista Bravo! foi publicada uma matéria de autoria de Rafael Tonon entitulada "Prestígio Dividido" mostrando que "foi-se o tempo em que a pintura reinava soberana nos museus. Agora, as grandes instituições e os colecionadores estão também atrás da fotografia". A matéria segue abaixo, na íntegra:

"A fotografia nunca teve tanto valor quanto hoje. E isso em termos financeiros e estéticos. Entrou nos acervos dos museus mais respeitados. Está também em coleções particulares e ganhou de vez a atenção dos críticos e curadores. Na Europa, essa ascensão da linguagem ao universo da arte pode ser localizada nos anos 90, com a presença incisiva dos fotógrafos alemães e suas icônicas imagens de paisagem no circuito das grandes bienais. Depois disso, não demorou muito para instituições como a Tate Modern, em Londres, e o Museu de Arte Moderna de Nova York criarem departamentos específicos para o setor. Aqui, no Brasil, a aceitação da fotografia no cenário artístico é mais recente. Hoje, no entanto, o curador Diógenes Moura, responsável pelo segmento na Pinacoteca do Estado de São Paulo há 11 anos, não tem dúvidas de que os fotógrafos já disputam as paredes do museu com a mesma força dos pintores, para ficar em um exemplo de suporte bem tradicional.

Em 2011, só na capital paulistana, foram inauguradas seis galerias especializadas em foto. Ao longo de 2012, devem ocorrer ainda 32 festivais de fotografia pelo país, do FestFotoPoA, no Rio Grande do Sul, ao Manaus Bem na Foto, no Amazonas. E a feira SP-Arte/Foto, criada em 2007 pela colecionadora e empresária Fernanda Feitosa, chegou à quinta edição com o título de um dos mais importantes encontros do gênero na América Latina. Em setembro do ano passado, o evento reuniu 26 galerias, entre nacionais e estrangeiras, sete delas voltadas exclusivamente para o setor. “A Fernanda revolucionou a área de um jeito elaborado, profissional”, diz o fotógrafo carioca Claudio Edinger. “E isso só vai crescer. Talentos das artes plásticas têm migrado para a fotografia. Tudo já foi feito e ao mesmo tempo nada foi feito ainda.” Edinger defende também que o público hoje está mais preparado para entender esse tipo de trabalho. Segundo ele, a tecnologia digital popularizou o acesso às imagens e está ajudando a sofisticar o olhar do espectador.

Isso explica o sucesso do site Fotospot, uma espécie de galeria virtual que vende tiragens originais limitadas de artistas com qualidade “museológica”, ou seja, com apresentação e impressão iguais às de museus e galerias. Projeto dos fotógrafos paulistanos Cássio Vasconcellos, Lucas Lenci e André Andrade, o Fotospot representa atualmente 24 nomes reconhecidos no mercado, como Mario Cravo Neto e Cláudia Jaguaribe, e em um ano de funcionamento vendeu 470 imagens por preços que variam entre 450 e 2,9 mil reais. “A maioria dos colecionadores que conheço hoje se interessa por todos os suportes”, diz o curador Eder Chiodetto. As assinaturas e as tiragens limitadas foram também estratégias adotadas pelos fotógrafos que ajudaram a aumentar o prestígio da linguagem no universo da arte. Para se valorizar, a fotografia restringiu, portanto, um princípio de sua natureza, a reprodutibilidade. “Eu sempre acreditei na cópia da fotografia como parte de seu caráter, mas por demanda do mercado foi preciso adotar a redução das ampliações. No meu caso, as imagens tiradas a partir de 2009 têm entre cinco e dez exemplares somente”, diz o fotógrafo paraense Luiz Braga. “Essa medida foi determinante para o preço das obras e para o posicionamento da fotografia em um novo patamar artístico”, concorda Fernanda.

Na casa do milhão

O resultado disso lá fora é notável. Em novembro, um panorama do rio Reno tirado pelo alemão Andreas Gursky em 1999 tornou-se a foto mais cara já vendida na história ao ser arrematada em um leilão da Christie’s de Nova York por 4,3 milhões de dólares. Até maio, o recorde era da norte-americana Cindy Sherman, que teve seu autorretrato Untitled #96, de 1981, vendido por 3,9 milhões de dólares. “Fotos de um milhão de dólares são cada vez mais comuns. E isso é só o começo. Se você considerar que um autorretrato sem a menor graça do Andy Warhol custa 70 milhões de dólares, as fotos ainda estão baratas”, diz Braga."

Fonte: Revista Bravo - Edição 173