domingo, 19 de dezembro de 2010

Livro: "Sobre as Ruínas do Museu" - Douglas Crimp (2005)

O que determina o sentido de uma obra? Será que ele reside perpetuamente dentro da obra? Ou será continuamente construído e reconstituído de fora para dentro, através do modo pelo qual a obra é apresentada? A transformação histórica que levou do objeto autônomo modernista à crítica pós-modernista das intituições, da obra de arte ao contexto discursivo, é o tema dos ensaios de Douglas Crimp e das fotografias de Louise Lawler em "Sobre as Ruínas do Museu". Editora Martins Fontes.

Veja abaixo texto sobre o livro publicado no site Mundo Cultural:

O museu constrói uma história cultural ao tratar seus objetos independentemente tanto das condições materiais da própria época desses objetos quanto das do presente.
Douglas Crimp

"Um olhar crítico sobre o mundo misterioso dos museus e das obras de arte. "Sobre as Ruínas do Museu" é uma coletânea de ensaios publicados em revistas e catálogos de exposições que têm como tema central o fenômeno dos museus de arte na modernidade e a passagem da modernidade para a pós-modernidade. Sem desconhecer a estreita relação entre o lugar e o sentido da obra de arte, ou seja, o contexto onde a obra é exposta é uma espécie de moldura dos seus significados. O autor propõe uma análise arqueológica da instituição museu como fez Michel Foucault com o hospício, a clínica e a prisão, apoiado no materialismo histórico destilado por Walter Benjamin, como se o museu fosse também um espaço de exclusões e confinamento de uma prática cultural. Explora a história da instituição para mostrar o seu papel na produção e na leitura da arte na cultura moderna.

O museu - que tem sua origem no ato de colecionar e preservar a "herança estética da humanidade" - emerge com o desenvolvimento da moderna sociedade burguesa. As pinturas e esculturas ganharam autonomia quando foram transferidas dos palácios, das igrejas para este lugar moderno, destinado exclusivamente para abrigar as obras de arte, no final do século XVIII e início do século XIX. Uma instituição comprometida com os valores e o formalismo modernos questionados pelas manifestações contemporâneas no seu propósito de recuperar a finalidade social da arte que foi um fracasso nas vanguardas. O museu e a história da arte que são os iniciadores da modernidade, são os responsáveis pela idéia de arte como pensamos hoje.

A partir da década de 1960 com manifestações artísticas como as serigrafias do artista pop Rauschenberg e as instalações do minimalista Richard Serra os museus foram questionados ideologicamente e passaram por transformações. Crimp na sua versão de pós-modernidade, a fotografia, esse novo processo de formar imagens através da seleção e do enquadramento, é a arte pós-moderna por excelência. Ela chega ao museu, adquire sua autonomia, como as expressões artísticas tradicionais, ganha destaque no mercado de arte, alterando valores como a aura das obras de arte, como aconteceu também com a produção de arte na década de 1970 com o predomínio da arte conceitual. Mas o fantasma da aura envolveu a fotografia, o pop, o minimalismo e a pós-modernidade de Crimp.

Se a fotografia e o radicalismo do minimalismo e da arte conceitual contrariaram a ideologia do museu, não chegaram a abalar suas estruturas. Como filhos rebeldes que um dia retornam a casa paterna. Quem legitima a autenticidade de obra de arte dessas manifestações? O pós-moderno de Crimp começa com a perversão do moderno provocado pela fotografia, recorre ao minimalismo, chega à arte contemporânea, sai ou interroga o museu, mas precisa do aval desta "instituição paradigmática". Para os minimalistas basta uma chapa de aço, um objeto fabricado em escala industrial sem nenhuma intervenção da mão do artista, sem aura, colocada em um determinado local, na praça em confronto com a arquitetura e o espaço público, um ato determinado apenas pela vontade do artista, a arte não nega a verdade de nossa condição social. Mas o museu acolhe sempre intervenções como estas, através de documentos, restaurando e sustentando a condição de arte nas suas ruínas imaginárias."

Fonte: http://www.mundocultural.com.br/