domingo, 14 de novembro de 2010

Quantos clicks dura um obturador de uma câmera reflex


Você sabia que o abre-e-fecha do obturador tem um limite e que esse desgaste pode fazer sua câmera parar de funcionar?
Veja a matéria abaixo publicada por Mário Bock na Revista Fotografe Melhor.
A dica é do aluno Lucas Marttins.


"Que as novas Canon EOS Rebel XT, Nikon D50, Pentax *Ist DL e Olympus E-300 Evolt são capazes de gerar imagens com a mesma qualidade e eficiência dos equipamentos profissionais, isso todo mundo sabe. O que vem afligindo o fotografo, e com todo razão, é se essas pequenas máquinas aguentarão o corre-corre do estúdio, da fotografia de moda, dos eventos, do fotojornalismo… A dúvida maior é com a durabilidade do obturador da câmera, que tem vida útil limitada. O frenético abre e fecha das cortinas pára um determinado momento. É a “morte” do obturador - que pode ser “ressuscitado” numa oficina.
Em meio a verdade há lendas, por isso Fotografe foi atrás das informações dos representantes oficiais das marcas no Brasil para tentar descobrir quanto dura um obturador. Nem todos são transparentes quanto a esse tipo de dado. Veja a seguir, o que foi apurado pela reportagem.
Se a digital pipocou numa sessão de still ou durante um ensaio fotográfico, o prejuízo pode não passar do custo (alto) do conserto e da raiva do fotógrafo.
Mas, se for numa reportagem mais importante, como de um casamento ou outro evento social, se não há uma câmera reserva, a falta de imagens poderá colocar o profissional numa situação delicada - uma ação judicial. Para evitar um “friozinho na barriga”, não custa levar uma digital de reserva - pode até ser uma compacta qualquer, ou mesmo uma de filme, nem que seja uma antiga (mas salvadora) Olympus Trip 35 com flash Tron.
Câmeras que travam sempre existiram, mas com as SLR digitais o transtorno se avolumou. Vem do excesso de utilização, uma espécie de desperdício de disparos a que o obturador, o mesmo usados nas câmeras de filme, não resiste. Sem necessidade de economizar nos cliques e na busca frenética da “ melhor” imagem, é comum a digital ser disparada três, cinco e mais vezes que uma câmera de filme. O obturador, que literalmente não é de ferro na maioria das câmeras, vai trabalhar feito louco travestido de profissional. O resultado não é a quebra precoce, mas o fim prematuro da curta vida útil. E a culpa, com certeza, não será da mãe do fabricante.


VIDA ÚTIL
A quebra mais frequente do obturador ocorre quando termina a vida útil prevista “em contrato” para cada tipo de câmera. Por ser um dos poucos componentes móveis da SLR digital, a cortina e os mecanismos de acionamento estão sujeitos a atritos que causam a fadiga dos materiais. Um dia, finalmente, quebram.
A durabilidade varia conforme o material e a robustez com que o sistema é fabricado: inteiramente em metal nas profissionais ou em plástico nas SLR. Em ambas, as finas lâminas da cortina são feitas em metal.
A diferença entre os tipos de obturadores é enorme. Fica evidente a “pobreza” e a aparente fragilidade dos mais simples, usados nas câmeras de preço menor.
O desgaste (vida útil) é perfeitamente conhecido pelas fábricas - mas só é informado oficialmente para as câmeras profissionais, que têm uma qualidade superior. São 150 mil disparos para a Canon EOS 1D/1Ds, o mesmo para a Olympus E1 e também para as Nikon D1/D1H/ D1X e as novas D2Hs e D2X. E 200 mil nas Canon EOS 1D/1Ds Mark II.
Para as SLR digitais de menor preço, a vida útil é estimada pelas oficinas autorizadas, já que as fábricas não revelam qualquer número a respeito. A durabilidade varia de 20 a 70 mil disparos, com média de 50 mil, segundo Maurício Namba, da Cine Camera Service, autorizada da Canon no Brasil.
A vida útil das D50, D70 e D70s é semelhante, garante Gilberto Suenaga, da T. Tanaka, oficina autorizada da Nikon. “Mas a média pode ser mais elevada”, completa, “graças ao sistema híbrido do obturador eletrônico”. Com o sistema, o mesmo sensor que captura as imagens produz as velocidades mais elevadas acima de 1/25s, como 1/4000s na D50 e 1/8000s na D70, além da excepcional velocidade de 1/500s para sincronismo do flash. Com isso, poupa a cortina dos choques mais fortes, o que faz com que ganhe uma durabilidade extra.
Não há dados oficiais da Fuji sobre a durabilidade do obturador das Finepix S2 e S3 Pro, que pode ser o mesmo da Nikon D100 - de 80 a 100 mil disparos, pois ambas são baseadas no corpo da Nikon D80. A Olympus garante oficialmente a vida útil mínima de 50 mil disparos para a E-300 Evolt.


PREJUÍZO
A câmera costuma travar sem emitir avisos prévios, como ruídos estranhos. Mas os sintomas são evidentes: imagens ou faixas totalmente escuras, ou muito claras (sem a possibilidade de correção) e falhas de sincronismo de flash.
A indicação de erro (“Err 99”) na tela de cristal líquido das Canon nem sempre indica defeito nas cortinas. Para o diagnóstico correto, só mesmo consultando uma oficina autorizada. As oficinas autorizadas garantem o conserto da câmera pela substituição integral do obturador. O serviço pode sair entre R$600,00 (nas SLR mais simples) a R$1.500,00 (profissionais). Mas já existem oficinas “especializadas” que oferecem a possibilidade de “conserto” do obturador ao custo de R$300,00.
Pior que o preço do serviço é a digital ficar internada por um bom tempo na oficina, pois a substituição não é fácil: requer a desmontagem quase total do equipamento. Na oficina da Canon há um atendimento de urgência para os profissionais que garante a entrega do equipamento consertado no dia seguinte ao da chegada. Normalmente, o serviço leva em média uma semana ou mais para as SLR da Nikon, caso não haja disponibilidade de peças.
O obturador pode se quebrar por outras razões: uma queda da câmera (mas é um caso raro); uso do flash inapropriado ou durante uma limpeza desajeitada do sensor, quando a cortina se fecha acidentalmente, chocando-se contra um pincel, um cotonete ou uma bombinha de ar. Neste caso, a cortina danificada fica entre aberta, o que produz as imagens muito claras.
A substituição completa do obturador não deixa sequelas, pois a câmera volta às suas condições normais de funcionamento. Como um motor de um carro que aceita diversas retíficas, todas as reflex digitais aceitam diversas trocas do obturador - até três para as Canon - quando então chega ao fim a vida útil do equipamento. Portanto, não adiantaria mais trocar o obturador , pois o restante dos componentes da câmera já estariam bastante desgastados.
Há oficinas que consertam em vez de trocar.
Não só as poucas oficinas autorizadas consertam câmeras digitais. As especializadas, como a Tecnikon e a Optisom de São Paulo, capital, aos poucos vão se adaptando para a sofisticada tecnologia eletrônica. Quando o problema é na cortina, a Optisom dispõe não só de obturadores originais para troca, como também faz o conserto do componente, que é possível em 90% dos casos, assegura Adriano Carnelossi, responsável pela oficina.
O preço do reparo é bastante atraente: R$300,00 para qualquer câmera, com garantia de três meses. O técnico explica que, em muitos casos, o que quebra no obturador são somente as pequenas e frágeis hastes em plástico de acionamento, substituídas por outras de metal feitas no torno da própria empresa.
“O obturador fica melhor que o original”, diz Walter Carnelossi, proprietário da oficina e tio de Adriano, para quem o sobrinho de 23 anos superou o mestre e hoje é fera quando se trata de resolver os intrincados problemas das câmeras digitais. O serviço é prometido para até cinco dias. Se necessário, a troca do obturador sai por R$650,00, com garantia de três meses - a mesma que oficinas autorizadas da Canon e da Nikon no Brasil.


ODÔMETRO
Semelhante ao velocímetro dos automóveis, onde o odômetro soma o total de quilômetros rodados, a Canon disponibiliza um serviço (R$25,00) que acusa exatamente quantos disparos fez a câmera SLR. Isso é útil tanto para orientar a manutenção da câmera quanto para a compra de equipamento usado, quando o interessado pode saber exatamente as condições do obturador e, com isso, ter uma idéia do uso do próprio equipamento. Ao contrário do carro, na câmera não dá para “diminuir a quilometragem”.
Para o fotógrafo, a medição pode ser uma questão de “vida e morte” ao ser alertado da entrada da câmera na zona de risco (acima de 40 mil para as não profissionais, geralmente), a partir da qual o obturador está sujeito a quebra a qualquer momento.
A quantidade de disparos é revelada por um software da Canon (exclusivo da oficina autorizada). Foi desse modo que a Cine Camera Service apurou o número recorde de 350 mil disparos para uma Canon EOS 1D - com o obturador com vida útil de cerca 150 mil. A proeza foi de Ricardo Struckert, o fotógrafo oficial da Presidência da República, que recorreu à oficina somente para limpeza do sensor… Uma Canon EOS 1D fez 90 mil disparos, valor bastante elevado para o modelo, comenta Maurício Namba, da Cine Camera Service.
A Nikon não disponibiliza a medição de disparos para as câmeras da marca. Para ambas, o serviço não tem utilidade para revisão ou manutenção preventiva do equipamento, pois certamente a “quilometragem” do obturador é acompanhada por um desgaste proporcional dos outros componentes, o que demandaria a substituição de todos.
A Canon antecipa a troca do contato do botão do disparador, juntamente com o obturador, para evitar um eventual desgaste de um dos estágios possa prejudicar o comando do autofocus (a troca custa R$60,00).


CONTROLE DE DISPAROS
Na falta do computador, pode-se somar o número total de disparos baseando-se no contador de exposições (ajuste programado pelo menu) para exibir os valores em seqüência até 9.999, quando o contador virar, anotar cada virada e, assim, estimar a vida útil restante. Como num automóvel a baixa “quilometragem” pode indicar bom funcionamento do equipamento, condição essencial (e segura) para os fotógrafos profissionais.
Nas câmeras de preço mais acessível, a vida útil do obturador não é o fator mais relevante na durabilidade da câmera. É o caso da EOS Rebel D/XT, que utiliza praticamente o mesmo obturador das Canon EOS D30/D60, 10D e 20D. Com grande quantidade de componentes plásticos internos, é comum outros mecanismos quebrarem antes do obturador. Pode ser o mesmo caso da Nikon D50 em relação à D70s mas, dado o lançamento muito recente, ainda é prematuro avaliar a durabilidade do equipamento.


BARATAS, MAS FRÁGEIS
A maior “fragilidade” das SLR digitais de menor preço é o único empecilho para a utilização profissional intensiva do equipamento, já que condições, recursos e qualidades elas têm de sobra para a função.
Se a durabilidade da digital depende da qualidade do obturador, então por que as fábricas não equipam logo as suas excelentes câmeras com o produto melhor? A explicação é que isso já vem sendo feito: quem procura uma câmera com obturador melhor deve optar por um modelo mais resistente, como a Canon 20D, Nikon D70s ou a Fuji S3 Pro. Na falta destas, a solução mais palpável para prolongar o usofruto do obturador seria o uso racional da câmera, recomenda Maurício Namba, para quem é ótimo o de disparos acumulados pelo obturador, mas não o de imagens capturadas pelo fotógrafo em uma única reportagem.
Infelizmente, ainda não se sabe exatamente porque em câmeras idênticas a vida útil do obturador pode ter grandes diferenças. Pode ser o uso intensivo e frequente em altas velocidades, até mesmo a temperatura do ambiente, entre outros motivos. O melhor é conter o ímpeto de disparar compulsivamente, algo que se fazia com as câmeras de filme por causa de custos do processo de revelação e ampliação - o que no digital é desconsiderado."