domingo, 13 de maio de 2012

Como fazer uma calibragem profissional no seu monitor

Calibração de monitor
Na tag Monitores deste blog é possível encontrar explicações e dicas para deixar o monitor do seu computador com as cores o mais aproximado possível daquilo que será visto na impressão do material. Entretanto, acabei guardando aqui comigo uma matéria que saiu na Revista Fotografe Melhor chamada "Calibração Profissional", escrita por Marcos Kim, que pode te ajudar ainda mais. Veja o que diz:

Na calibração profissional "usam-se dois equipamentos: colorímetro e espectrofotômetro. Grosso modo, são sensores que medem luz e cor, sendo o primeiro, a cor do monitor, e o segundo, a cor impressa. Além disso ambos medem a luz do ambiente como os antigos kelvinômetros.

É importante ressaltar que a calibração profissional sempre tem duas etapas, diferentemente da amadora, que tenta resolver tudo de uma só vez. Em primeiro lugar, você deve neutralizar o seu monitor, ou seja, tentar anular os desvios de cor, ajustar a densidade, e enquadrá-lo em um padrão, à semelhança de um ISO 9000. Em outras palavras : ver o cinza realmente cinza, o que é mais complicado do que pode parecer.
Quem faz isso por você é o colorímetro (a calibração amadora apenas tenta chegar perto disso). Veja que essa etapa não tem nada a ver com o minilab digital ou qualquer outro tipo de impressora, mas é importantíssima dentro do processo completo.

Em segundo lugar, é necessário instalar um ICC Profile (Perfil ICC) de impressão, que simula o resultado do print final, ou seja, faz um "meio-de-campo" entre o computador e seu minilab digital/impressora profissional (amadora não rola), de modo relativamente fiel à mídia escolhida (papel mate, brilhante, luster...). É a etapa mais importante, indispensável.

Colorímetro: um Amigo

Já vou adiantar uma dica importante: convém você comprar um colorímetro. Ele deve ser usado com frequência, e digo honestamente: não compensa contratar um consultor, como eu, para fazer o serviço. A longo prazo a compra se torna um investimento de retorno absolutamente garantido. Usar o aparelho é um procedimento relativamente simples, e o software costuma ser auto-explicativo.

O brinquedo não é absurdamente caro: custa entre 150 a 300 dólares (nos EUA). E você pode rachar o custo entre outros colegas fotógrafos, pois cada um só precisaria usá-lo uma vez por mês, aproximadamente. É o tipo de equipamento que, pela excelente relação custo/benefício, todo laboratório fotográfico deveria ter.

Vale dizer que, ao comprar o colorímetro, você recebe um software básico de calibração de monitor. Pode-se comprar um programa separado, que não é barato, mas é um investimento que compensa. Duas opções seguras (de equipamento e software) são Gretag e Monaco. São como Leica e Hasselblad, qualquer uma é boa escolha.

Você certamente já viu fotos ou ilustrações, com um treco redondo ou em forma de mouse, grudado na tela do monitor como se fosse um estetoscópio. Pois é isso mesmo: o colorímetro é o médico do seu monitor. Faz o diagnóstico e, logo depois, apresenta o tratamento. Como qualquer paciente, você precisa colaborar, seguindo as instruções que surgem ao longo do processo. É importante que o monitor tenha o recurso de ajuste individual do RGB. No final, o software de calibração vai gerar um perfil de cor do seu monitor. É crucial que você não o confunda com o perfil de impressão, o qual veremos adiante. Perfil ICC de monitor e perfil ICC de impressão são complementares, mas totalmente diferentes.
 
Normalmente, os monitores tradicionais (CRT) contam com o recurso de ajuste individual de RGB. Já os de cristal líquido (LCD) nem sempre podem ser ajustados desta forma (tem dois ou três ajustes pré-determinados). E os notebooks, em geral, só dispõem de ajuste de brilho. De qualquer forma, os bons softwares de calibração tentam levar em conta os limites dos monitores. E lembre-se: monitor velho é ótimo... para doar para o departamento administrativo.

É bom lembrar que o Perfil de Monitor vale apenas para o conjunto específico de computador e monitor em que você trabalha. Não adianta você copiar o perfil de algum colega. Mesmo porquê, pelo menos uma vez por mês, o perfil precisa ser refeito. Mais ou menos como calibrar os pneus do carro: tem que fazer com frequência e requer algo profissional.
Agora entra em cena o espectrofotômetro. Este sim é um brinquedo caro, a partir de 1.500 dólares, numa configuração adequada à fotografia. Sua função é gerar um Perfil de impressão, que é o pulo do gato de toda a nossa conversa. O perfil de impressão, ou ICC Profile, atua como um tradutor-diplomata. Pega as cores do arquivo, interpreta e envia à sua impressora, devidamente "mastigadas". Ou pode simular o resultado final da impressão. Sem esse tradutor, os desentendimentos e frustrações são inevitáveis. Além disso, ao permitir que o Photoshop simule o resultado de impressão, com boa fidelidade, você antevê os problemas e personaliza a correção. E com isto, poupa tempo e dinheiro, eliminando-se algumas (muitas) dores de cabeça.

Perfil de Impressão

Uma boa e uma má notícia sobre espectrofotômetro. A ruim primeiro: os bons softwares de geração de perfil são bem caros, cerca de 4 mil dólares. Sim, quase o triplo do aparelho. A boa notícia é que você não precisa comprar nem esse treco, tampouco o software. O seu laboratório é que deve fornecer o ICC Profile personalizado a você, gratuitamente. Afinal, é interesse (ou deveria ser) do laboratório fidelizar o cliente. E mesmo o dono de laboratório não precisa comprar o aparelho, pois como um perfil de impressão pode ser revisado em prazos mais longos, vale a pena pagar um consultor para criar o perfil.

Gerar um perfil de impressão é um processo bastante complexo, e realmente exige conhecimentos consistentes a respeito de Gerenciamento de Cor.

Passarei uma noção básica do processo todo, desde a calibração do monitor até a geração de um Perfil de Impressão.

A função do espectrofotômetro é medir a diferença de cores entre o monitor deviidamente calibrado e a sua impressora. Tomemos como exemplo o minilab digital, usando o papel brilhante. (...)

O software que cria o ICC Profile de Impressão gera um arquivo de medição, conhecido como patch. É uma série de quadradinhos coloridos, muito semelhantes entre si, cuja função é mostrar a diferença entre a cor do arquivo e a cor que sua impressora consegue reproduzir. Essa diferença é conhecida pelo nome de Delta E.

Antes de imprimir o arquivo, o operador do minilab deve tomar os cuidados básicos de rotina: verificar os químicos, e fazer um processo chamado de linearização, ou seja, uma espécie de autocalibração do papel inserido no minilab. Também é importante ao abrir o arquivo no Photoshop, que nunca se atribua um espaço de cor a ele (opção Don't Color Manage). O arquivo nunca deve ser gerenciado, pois esta alteração prejudica a medição.

Impresso o arquivo, começa o trabalho de formiguinha: deve-se medir quadradinho por quadradinho para o software calcular o Delta E. São 729 quadradinhos geralmente. Ou seja, um trabalho maçante e braçal. Terminada a medição, o software cria um ICC Profile bastante específico, pois foi medido em cima do papel brilhante. Algo como: "d50_miniilabtal_papelbrilho.icc".

Recomenda-se gerar um perfil específico para o papel mate, pois vários minilabs apresentam diferenças não-desprezíveis entre os dois papéis. Papel metálico gera um perfil medianamente confiável, pois sendo um material de alta refllexão, "engana" o espectrofotômetro.

O processo não acaba aqui. Após o software gerar o perfil, chega a hora de testá-lo. Deve ser inserido na pasta adequada do sistema operacional. No Macintosh: Library - ColorSync - Profiles. No PC: Windows - System32 - Spool - Drivers - Color. Conforme a versão do seu Windows, basta clicar com o botão direito do mouse em cima do arquivo do perfil. Surge a opção "Instalar Perfil". Muito confortável.

Se você trabalha com um bom laboratório, ele deve te fornecer um ICC Profile personalizado e ensinar como instalá-lo. Ok, no Brasil ainda são poucos os que fazem isso.  (...) Se o laboratório não tem perfil ICC próprio, é um mau sinal. Se nem sabe o que vem a ser um perfil ICC, fuja. É um amador que pode até ter a ilusão de que sabe atender profissionais. Mas está se iludindo e iludindo você.

Target da Capovilla da
Pedroso de Moraes
Dentro do Photoshop deve-se abrir um arquivo de referência conhecido como Target. (...)

Novamente deve-se abrí-lo sem atribuir nenhum espaço de cor. Agora em View - Soft Proof, opte por Custom. Surgirá na lista de perfis aquele recém instalado. Não faça a instalação de forma aleatória, siga as instruções do seu laboratório. Um erro aqui torna a operação toda inútil. Aplique-o e veriifique se está legal.

Se sim, salve com um nome adequado, ainda que longo. Algo como "Noritsu3202_Kodak_Endura_Brilhante". Ou seja, coloque o nome do equipamento, a marca do papel e sua característica.

Se o resultado não estiver legal, das duas uma: ou seu monitor não foi bem calibrado (...) ou o perfil do laboratório não está legal e deve ser reeditado. De qualquer forma isso é problema do consultor, não do fotógrafo. Um bom laboratório tem a obrigação de fornecer um ICC Profile de Impressão personalizado, testado e aprovado.

Luz Branca, Por Favor

Uma obrigação que 99% dos laboratórios (e dos fotógrafos) não leva a sério: ter alguma luz branca confiável, sob a qual deve ser analisado o Target de impressão e, por extensão, todas as fotos. Em geral são usadas lâmpadas fluorescentes comuns, que geralmente têm uma tonalidade magenta. Se você coloca uma footo P&B levemente esverdeada sob esta luz, ela vai parecer perfeitamente neutra, o que não corresponde à realidade. Definitivamente é uma perda de tempo discutir com o cliente se ele tem uma luz em casa e o dono do laboratório outra completamente diferente. A luz branca, eu costumo dizer, resolve o "litígio da cor". Debaixo dela a verdade aparece.

Geralmente, as pessoas consideram a luz do sol como sendo perfeitamente branca. Mas é preciso lembrar que, conforme o horário, a temperatura Kelvin varia. Um pôr-do-sol, por exemplo, está longe de ser branco (felizmente, sennão não teria magia). Nove horas da manhã, num dia aberto, é considerado o horário mais próximo dos 5000K.

Não é preciso iluminar todo o ambiente com lâmpadas especiais. Mas, em algum lugar do laboratório, é muito importante ter uma fonte de luz cuja temperatura seja de 5000K (Kelvin). No Brasil, infelizmente, não se encontram muitas opções. A mais conhecida é a lâmpada Chroma 50, mas raramente se acha em outra medida que não seja 1,20m. Custa cerca de R$20,00. Ou seja, um investimento tremendamente barato.


Mesa alemã Just Normlicht
(...) A solução realmente ideal, "profiça no úrtimo", é adquirir uma cabine de luz que é produzida não só com lâmpadas perfeitamente brancas (...) mas também pintadas em um tom de cinza neutro, devidamente certificado dentro de um padrão internacional. Mas aí estamos falando em algo que custa cerca de 700 euros. Um exemplo é a alemã Just Normlicht.

Perfil: Nada de Genéricos

Veja a importância de se utilizar ICC Profiles especíificos e personalizados. Em vários laboratórios que atendi no Brasil encontrei minilabs da mesma marca e do mesmo modelo. Todos apresentaram alguma diferença, de loja para loja, ainda que não tenha sido brutal. E dentro de um mesmo laboratório pode haver a opção de papel Kodak, Fuji, genérico e ainda brilhante, mate, metálico...

A calibração amadora nunca contemplaria toda a gama, tampouco apenas um ICC Profile de Impressão, por mais bem feito que seja. Por isso, para cada mídia, um Perfil ICC de impressão. Para cada laboratório, um conjunto de perfis ICC de impressão personalizados, principalmente no momento em que a tendência é complementar o minilab digital com alguma impressora jato de tinta, de grande formato e alta qualidade.

De forma geral, elas tendem a ser bem mais verdes e escuras do que uma saída digital de minilab e o perfil ICC personalizado ajuda tremendamente a compensar e/ou compreender este desvio."