quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Igrejas vêem na fotografia de casamento uma forma de aumentar suas receitas

Você sabia que se você quiser ser fotógrafo de casamento vai ter que pagar uma taxa para seu nome aparecer na lista de prestadores de serviço que a própria igreja oferece para os noivos?

Segundo matéria que saiu no jornal a Folha de São Paulo, de março de 2010, para atuar na Nossa Senhora do Brasil paga-se R$ 2.000,00 por ano para entrar na lista e mais R$ 200,00 por casamento em que atuar. Essas taxas são cobradas como "doações" e os recibos são assim emitidos.

Claro que os fotógrafos embutem essas taxas nos seus orçamentos, o que eleva o preço do serviço. Mesmo pagando a taxa há o risco do seu serviço não ser contratado, já que há outros profissionais nessa lista. Com isso muitos fotógrafos "alugam" seus horários para colegas de profissão, gerando um mercado paralelo. E quem não aceitar essas regras fica impedido de trabalhar, recebendo inclusive ameças.

Segundo a fotógrafa de casamento Luciana Cattani, essa prática abusiva, definida como venda casada, fere o artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor que diz que cada cliente é livre para escolher seus profissionais. Além disso ela diz "doação não tem valor fixo, pois é algo voluntário". 

Entretanto, a igreja acabou vendo no fotógrafo uma maneira de ganhar dinheiro fácil e acabou complicando bastante o ingresso de novos fotógrafos no ramo e elevando os preços.

No jornal A Folha de São Paulo, de março de 2010, saiu uma reportagem no Caderno Cotidiano, assinada por Ricardo Gallo que trata do mesmo assunto. Leia abaixo:

"Gisele (nome fictício), 29, pagou R$ 2.000 para se casar em uma das mais tradicionais igrejas de São Paulo, a Nossa Senhora do Brasil, na avenida Brasil (zona oeste). Ela nem se importou com o preço - muito acima do estabelecido pela própria Igreja Católica -, mas se surpreendeu ao ser informada de que só poderia contratar os serviços de foto e vídeo, entre outros, que a igreja indicasse.
“Tem que ser tudo do livrinho [a lista da igreja]. É um absurdo. Estava quase desistindo de me casar lá, mas a família do meu noivo queria muito”, disse.
Pelas normas da Arquidiocese de São Paulo, a taxa de casamento religioso não pode ser maior que a do civil - R$ 246,30. O preço sobe para R$ 821,00 se o juiz for até o local da cerimônia. Já a imposição ou restrição de serviços ao consumidor é considerada prática abusiva pelo Procon.
As duas situações são corriqueiras nas principais igrejas de São Paulo. A reportagem encontrou ao menos sete igrejas que cobram entre R$ 1.000 e R$ 6.000 pelo casamento. E, em quatro, há lista de fornecedores ou serviços embutidos que os candidatos a noivos são obrigados a contratar.
As igrejas, em geral, dizem que o custo de casamento não supera o que a arquidiocese preconiza. Elas usam um expediente previsto pela arquidiocese que lhes permite incluir no custo do casamento despesas não relacionadas ao rito, como gastos com luz, limpeza e estacionamento. E dizem reverter o que ganham para manutenção e obras sociais.
Na Nossa Senhora do Brasil, onde se casou o piloto Felipe Massa, por exemplo, o preço de R$ 2.000 só vale para 2010. No ano que vem, serão R$ 2.200. São cerca de 30 casamentos por mês, em média.
O guia com os fornecedores credenciados tem, entre outros, serviços de floricultura, foto e vídeo. Para estar no guia, cada prestador de serviço paga R$ 2.000 anuais, mais R$ 200 por casamento em que atuar. Embora a igreja admita que é obrigatório, o pagamento é chamado de “contribuição”.
Outras igrejas disputadas fazem o mesmo. A Perpétuo Socorro (Jardim Paulistano) e a Cruz Torta (Alto de Pinheiros) também mantêm “livrinhos” que obrigam o casal a contratar determinados serviços. Em seu site, a Cruz Torta informa que empresas não credenciadas podem prestar serviço de foto, filmagem e decoração, se os noivos quiserem - desde que paguem R$ 1.300 cada uma.
Com o preço mais alto entre os templos consultados (R$ 6.000), o Mosteiro de São Bento disse que o valor inclui outros serviços, como o profissional responsável pelo órgão e assessoria cerimonial. O mosteiro permite contratação de prestadores de serviço de fora."